Conheça mais sobre as doenças mentais 

Saúde é o bem-estar físico e mental, é ter a capacidade de enfrentar o seu dia a dia e ter condições de lidar com as adversidades da vida

Publicado em: 27 de setembro de 2022  e atualizado em: 27 de fevereiro de 2023
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Confira entrevista com Alexandrina Meleiro, Doutora em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria e membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) www.abrata.org.br.

  • O que caracteriza as doenças mentais?

Drª Alexandrina Meleiro – Saúde é o bem-estar físico mental, é ter a capacidade de enfrentar o seu dia a dia e ter condições de lidar com as adversidades da vida. Quando falamos de doenças mentais há uma série delas, como depressão, estresse pós-traumático, bulimia, transtorno alimentar, que têm aumentado muito a prevalência no mundo todo, a ponto de ser uma preocupação da Organização Mundial da Saúde, estamos falando de algo extremamente importante.

  • Para a Organização Mundial da Saúde, a falta de tratamento adequado faz com que os transtornos mentais tenham destaque no ranking de doenças que atingem a população mundial. A senhora acredita que o estigma relacionado a essas doenças faz com que as pessoas não procurem ajuda?

Drª Alexandrina Meleiro – Sim, o estigma prejudica muito as pessoas. Primeiro a identificar a doença, depois aceitar o tratamento. A Associação Brasileira de Psiquiatria fala em Psicofobia, termo de cunho internacional, e que se refere ao preconceito contra os padecentes de transtornos e deficiências mentais. Nós temos o preconceito, estigma e tabu. O preconceito é a aversão a determinadas situações, como se a pessoa com uma determinada doença, como depressão, não pudesse ser tratada igual como outras pessoas. Ela tem uma doença, ela não é a doença. Esse estigma faz com que a pessoa seja vista de modo diferente, cheia de reservas, como se ela não pudesse se misturar. E o tabu de falar de doença de comportamento, como se as pessoas fossem responsáveis por ela, assim como se falar que a pessoa é responsável por sofrer do coração ou do fígado. Todas as doenças mentais, comprovadamente, têm influência genética muito grande, somadas por alterações do meio ambiente, como bullying, que favorecem que a pessoa venha desencadear algo que ela recebeu geneticamente. Há também traços individuais, temperamento e acontecimentos de vida que pode fazer com que a pessoa tenha uma depressão, por exemplo. A única doença mental que não tem fator genético é o transtorno do estresse pós-traumático.

  •  Como minimizar os estigmas relacionados às doenças mentais?

Drª Alexandrina Meleiro – É importante falar sobre elas. Hoje a mídia mundial tem abordado muito o tema, mas ainda não o suficiente para reduzir os tabus e estigmas. É preciso chegar ao ponto de ter uma equivalência igual a de falar que tem uma doença cardíaca, por exemplo. Avançamos muito em relação ao século passado. Recentemente, tivemos os episódios do jogo Baleia Azul e da série 13 Reasons Why, que abordam o suicídio. No caso da série, ela vai contra todos os preceitos da Organização Mundial de Saúde e do que OMS recomenda sobre como abordar o tema, porém, vejo como lado positivo o fato de quebrar barreiras e poder falar mais livremente sobre esses temas.

  • Quais os principais alertas para perceber um transtorno mental?

Drª Alexandrina Meleiro – A maioria dos transtornos começa no final da infância ou início da adolescência e da vida adulta. É importante observar mudanças de comportamento, algo que a pessoa não era daquele jeito e passou a agir de forma diferente, começa a ter queixas, a ficar depressiva ou agitada, ansiosa, começar a adquirir determinados comportamentos, como limpeza, fazer abuso de determinadas substâncias, como álcool, ou ter gasto excessivo, baixa autoestima, faltar à escola ou ao trabalho, ou seja, todas essas alterações que faz com que a gente possa detectar que algo está acontecendo. O começo é por alteração de comportamentos

  • Neste caso, o que fazer para ajudar?

Drª Alexandrina Meleiro – Procurar um especialista e enfrentar o problema. Parece fácil ao falar, mas uma das coisas mais difíceis é convencer a pessoa a procurar ajuda, é muito comum a negação da doença. Orientamos os familiares a serem bastante persistentes para convencer. Diante de um quadro avançado é preciso procurar ajuda de qualquer maneira, se a pessoa está tendo um infarto vai ser levada a um pronto socorro de qualquer maneira. No transtorno mental é uma minoria que precisa deste tipo de intervenção. No geral, é um trabalho de persuasão de familiares e dos profissionais de saúde para que aceite o diagnóstico e tratamento. 

  • Quais as dificuldades para o diagnóstico das doenças da mente?

Drª Alexandrina Meleiro – O diagnóstico é difícil porque, infelizmente, há uma falta de conhecimento para que identifique, tanto do público leigo como de muitos profissionais da área de saúde. A partir do momento em que se está nas mãos de um profissional habilitado, o diagnóstico não é difícil. Alguns quadros de transtorno mental, às vezes, temos que esperar um tempo para ver como é a evolução para termos a certeza do diagnóstico. Mas a suspeita, a hipótese diagnóstica é feita.

  •  É possível prevenir doenças da mente?

Drª Alexandrina Meleiro – Claro, como toda doença dentro da medicina. A prevenção primária vem desde os pais terem uma genética saudável, o que não quer dizer que se eu tenho um transtorno mental eu não possa ter filhos, a ter uma gravidez com cuidados e bom pré-natal, o momento do parto, a atenção à primeira infância, uma boa alimentação, a criança não passar muita ansiedade, muitas angústias por não ter os cuidados necessários dos quais ela é totalmente dependente. A partir do momento que se identifica o grupo de risco, passa a ter um pouco mais de cuidado para prevenir o adoecer, na prevenção secundária. Quando a pessoa já teve um quadro de transtorno mental nós vamos prevenir para que não haja recorrência do quadro, isto é a prevenção terciária.

  •  Quais são os principais transtornos mentais tratados atualmente?

Drª Alexandrina Meleiro – Existem muitos transtornos, porém, os mais comuns são a depressão, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, transtorno bipolar, esquizofrenia e transtorno de dependência a álcool e outras drogas. O importante é vencer as barreiras do preconceito e tabus da doença mental.

 

*Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.

Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sempre seu médico.
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