Interprofissionalidade na Nutrição
A atuação colaborativa é o caminho para um trabalho mais humanizado nas áreas de alimentação e saúde, em prol da melhoria na qualidade de vida
A integração entre profissionais é uma tendência que vem dominando os diversos processos de trabalho, especialmente na área da saúde. Se a formação acadêmica envolve uma capacitação mais individual e independente de cada área, a chamada interprofissionalidade implica em diálogo e interação entre os vários segmentos, buscando sempre atender melhor o paciente ou usuário. 1
Dessa forma, a interprofissionalidade nada mais é do que a atuação de forma integrada, criativa e colaborativa, pensando de forma compartilhada em soluções para problemas diários. No caso das demandas de atenção à saúde, constitui-se ainda na formação de uma rede mais humanizada de cuidados. 2
O nutricionista, em particular, trata-se de um profissional capacitado para atuar com foco na segurança alimentar, prevenção de doenças e melhoria da qualidade de vida. Para isso, a parceria com áreas correlatas ou complementares torna-se estratégica visando à promoção, manutenção e recuperação da saúde. 2
A Nutrição é uma área profissional que foi estabelecida no final da década de 1930, com base em três pilares: ciência (associada à disciplina Higiene Alimentar nas faculdades de medicina), biológica (aspectos relacionados ao consumo dos nutrientes) e social (que envolve os aspectos econômico-sociais da produção, distribuição e consumo de alimentos). 2
Com o passar do tempo, a profissão se desenvolveu com foco em seis áreas de atuação: Nutrição em Alimentação Coletiva; Nutrição Clínica; Nutrição em Esportes e Exercício Físico; Nutrição em Saúde Coletiva; Nutrição na Cadeia de Produção, na Indústria e no Comércio de Alimentos; e Nutrição no Ensino, na Pesquisa e na Extensão. 2
Apesar dessa natureza particularizada da formação profissional, as Diretrizes Curriculares Nacionais já apontam para a atuação integrada e contínua do nutricionista com as demais instâncias do sistema de saúde, com a proposta de superar a fragmentação existente nos serviços. 2
O que diz o Código de Ética e Conduta do Nutricionista?
Por outro lado, o Código de Ética e Conduta do Nutricionista destaca que é dever do nutricionista respeitar os limites do seu campo de atuação, sem exercer atividades específicas de outros profissionais. 3 Mas como ampliar as possibilidades de atuação sem avançar em outras áreas?
Na visão do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região, alguns caminhos seriam: a convivência de equipes de saúde por meio do desenvolvimento de projetos integrados, estágios práticos ainda no período de formação, vivências problematizadoras, aprendizagens compartilhadas e colaborativas. 2
A ideia é exercer um trabalho coletivo que envolve relação recíproca entre intervenções técnicas e interações com agentes de áreas que compartilhem das mesmas finalidades. 1 Por exemplo: o nutricionista que atua com alimentação coletiva pode contar com o apoio de profissionais de gestão, gastronomia, serviços ou negócios para expandir a abrangência de sua atuação. 2
Já no caso do nutricionista que acompanha atletas ou atende pacientes com foco na performance esportiva, é bastante conveniente a busca por parcerias com educadores físicos, médicos do esporte ou colegas que trabalhem com a produção de alimentos funcionais, por exemplo. 2
É importante destacar que o conceito de atuação interprofissional difere da atuação multiprofissional. Neste segundo caso, o objetivo é analisar o paciente de forma individual e independente, dando parecer específico de acordo com a sua especialidade. Já na interprofissionalidade, a equipe trabalha de maneira uniforme e colaborativa, interagindo entre si. 1
Como adotar a interprofissionalidade na Nutrição?
Algumas condutas importantes e que contribuem para resultados colaborativos eficazes são: respeitar a diversidade de pensamento de cada um dos profissionais da equipe; reconhecer o seu papel e o dos outros; integrar os demais membros na dinâmica do seu trabalho; e buscar alternativas para a articulação de conhecimentos, habilidades e valores, visando sempre a resolução dos conflitos interprofissionais. 1
Essas são apenas algumas possibilidades de práticas colaborativas capazes de ampliar a prestação da assistência em saúde, previstas inclusive na Política Nacional de Alimentação e Nutrição, instituída no país em 1999. Essa normativa é considerada referência pelo Ministério da Saúde, órgão diretamente responsável pela promoção da saúde e da alimentação, estabelecidos como direitos constitucionais no Brasil. 4
Em outras palavras, trabalhar de forma interprofissional é desconstruir a hierarquização das profissões, buscando fortalecer o cuidado em saúde. São situações de trabalho em que os profissionais desejam trabalhar juntos porque reconhecem que juntos produzem melhores resultados – tendo sempre o paciente ou usuário como foco central da união de esforços. 1
Referências: 01. Portal EduCapes. Você sabe o que é interprofissionalidade? Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/600384/2/Cartilha%20EIP.pdf 02. Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo. A importância da interprofissionalidade na visão do nutricionista. Disponível em: https://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/profissional-da-saude/homepage//a_importancia_da_interprofissionalidade_na_visao_do_nutricionistac_5.docx_1.pdf 03. Conselho Federal de Nutricionistas. Código de Ética e de Conduta do Nutricionista. Disponível em: https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2018/04/codigo-de-etica.pdf#:~:text=nutricionista%2C%20a%20quem%20se%20destina%20o%20presente%20C%C3%B3digo,da%20sa%C3%BA-de%20e%20da%20seguran%C3%A7a%20alimentar%20e%20nutricional. 04. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pnan