Nutrição e função cognitiva em idosos: Desafios e oportunidades para um envelhecimento saudável
Explorando a influência da nutrição na preservação da saúde cerebral em idosos
O processo de envelhecimento tem recebido mais atenção a cada ano, refletindo a tendência de aumento na expectativa de vida global. Nesse cenário, um dos maiores desafios é lidar com os problemas físicos e cognitivos que surgem ao longo dos anos e que afetam profundamente a qualidade de vida dos idosos.1
Dados mostram que, em 2010, havia 770 milhões de idosos globalmente e, no Brasil, o número era de 20,5 milhões no mesmo ano.2 Esse crescimento também resultou em um aumento significativo nos casos de doenças crônicas não transmissíveis e demência. É estimado que cerca de 50 milhões de pessoas vivam com demência, com projeções para esse número triplicar até 2050.3
Embora o envelhecimento seja um processo inevitável, a nutrição desempenha um papel fundamental na saúde cerebral e na preservação da função cognitiva. Estudos indicam que a associação entre dieta e cognição é fundamental para desenvolver estratégias preventivas eficazes e reduzir o risco de doenças neurodegenerativas.4
Impactos do envelhecimento na função cognitiva
Envelhecer é um processo que envolve mudanças fisiológicas, metabólicas e estruturais no corpo. Com o avanço da idade, a velocidade de processamento, a função executiva e o desenvolvimento da memória começam a declinar. Uma das áreas mais afetadas é a função cognitiva, que, ao longo dos anos, diminui gradualmente.4
Esse declínio já começa na meia-idade e é acompanhado por alterações no cérebro - como a redução do volume cerebral e o acúmulo de proteínas anormais. No caso de envelhecimento acelerado, tais mudanças podem levar a doenças cerebrais relacionadas à idade, incluindo alguns tipos de demência e a doença de Parkinson.4
Influência da nutrição para a saúde mental em idosos
O comprometimento cognitivo favorece a alteração de hábitos alimentares como a falta de apetite, dificuldades para realizar compras e/ou preparar refeições, a perda de memória e a desorientação, prejudicando a ingestão adequada de alimentos e o estado nutricional, o que pode resultar em desnutrição5, anemia, osteoporose, desidratação e outros problemas.
Mesmo que não seja possível evitar o envelhecimento cerebral, estratégias preventivas podem gerar um impacto positivo nesse processo. A nutrição é um fator importante e que pode mitigar o risco de doenças neurodegenerativas.4
Compreende-se que hábitos alimentares fundamentados em dietas equilibradas, diversificadas e saudáveis, juntamente com um estado nutricional adequado, promovem um melhor desempenho cognitivo.5
Nutrição e suplementação para a saúde cognitiva na terceira idade
A suplementação é um recurso que pode auxiliar em situações que requerem uma complementação da dieta habitual. Quando balanceada, à base de minerais e vitaminas, pode ser considerada um importante coadjuvante alimentar.
Incorporar uma alimentação e suplementação adequadas, que forneçam nutrientes essenciais, é uma estratégia eficaz para garantir uma melhor função cognitiva e saúde mental na terceira idade1. Alguns nutrientes que exercem um papel importante nesse contexto são:
- Magnésio: Conhecido por seu papel neuroprotetora, auxilia na melhora da função cognitiva, especialmente na aprendizagem e memória.6
- Zinco: Envolvido no desenvolvimento cognitivo e a função sináptica. Atua como neurotransmissor e sua falta pode causar alterações no processo de atenção, memória e desenvolvimento motor.7,8
- Selênio: Contribui para a defesa antioxidante do organismo e para algumas funções especializadas do sistema nervoso central.9,10 Níveis baixos de selênio estão associados a uma piora da atividade cognitiva, incluindo prejuízos na memória e na função sináptica.11
- Vitaminas do complexo B: Participam da síntese e ação dos neurotransmissores.12
- Colina: É um nutriente essencial para todas as idades. Precursora da acetilcolina, um dos mais importantes neurotransmissores que atua diretamente na comunicação entre as células cerebrais. A deficiência de colina está associada alguns prejuízos na função cognitiva, tais como perda de memória, orientação, atenção e aprendizagem.13
Garantir o consumo adequado desses componentes pode não apenas mitigar os impactos negativos do envelhecimento cerebral, mas também promover um envelhecimento mais saudável e ativo.
Impacto dos alimentos ultraprocessados
Pesquisas destacam a importância de considerar não apenas padrões alimentares específicos, mas também os efeitos negativos do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde cognitiva dos idosos.4
Em adultos de meia-idade (com média de 55 anos) e em idosos (com mais de 60 anos), juntamente com o sobrepeso e a obesidade, o consumo desses alimentos tem sido associado a hipertensão arterial, diabetes, alterações no perfil lipídico, câncer, doenças cardiovasculares, doenças renais, síndrome da fragilidade e demência.3
Estudos recentes indicam que o baixo consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, ricos em micronutrientes essenciais para a saúde cognitiva, bem como o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, podem ser fatores que potencializam o declínio cognitivo em idosos.3
Fatores de risco para demência
Diversos fatores podem influenciar o funcionamento cognitivo, desde os não modificáveis (como uma lesão cerebral) até comportamentos de estilo de vida (como dieta, exercício físico, tabagismo e consumo de álcool), que têm um impacto potencial na saúde do sistema nervoso.1
Com base no conhecimento atual sobre a história natural da doença, é possível identificar o envelhecimento, o sexo e a presença do gene da apolipoproteína E (apoE) no DNA como fatores de risco potencialmente não modificáveis.1
Também têm sido estudadas as condições associadas à desregulação metabólica, como hipertensão, diabetes tipo 2, obesidade e hipercolesterolemia, por seu impacto no envelhecimento cerebral. Por exemplo, a diabetes tipo 2 tem sido associada à diminuição da perfusão cerebral e ao aumento do risco de desenvolvimento de Alzheimer e outras formas de demência. 1
Essas condições são agravadas por uma dieta rica em sódio, gorduras saturadas e carboidratos simples podem ter implicações negativas no envelhecimento do cérebro.1
Como vimos, estudos da literatura recente mostram como uma alimentação saudável e estilo de vida podem influenciar de modo decisivo na prevenção e tratamento de diversas doenças. Nesse contexto, o nutricionista assume um papel fundamental no apoio e manejo nutricional adequados para o envelhecimento saudável, não só considerando a função cognitiva, mas todos os aspectos que influenciam na saúde e bem-estar de cada paciente.
Fontes:
1- Brazilian Journals. Influência da atividade física e hábitos alimentares na função cognitiva em idosos. 2023. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/download/68708/48717/168640 2- IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro- RJ, BRASIL: 2011 3- Universidade Estadual de Campinas. Consumo de alimentos segundo o grau de processamento e sua associação com ingestão de nutrientes e cognição em idosos. 2023. Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/1263760 4- Galaxcms. Qualidade de Vida na Saúde dos Idosos. 2023. Disponível em: https://galaxcms-client-files.s3.amazonaws.com/4989/relacaoentrenutricaoe.pdf 5- Revista Envelhecer. Os domínios da cognição estão associados com o estado nutricional de idosos? 2023. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/RevEnvelhecer/article/view/133002 6- Slutsky I, Abumaria N, Wu LJ, et al. Enhancement of learning and memory by elevating brain magnesium. Neuron. 2010 Jan 28;65(2):165-77Colombo, J., Zavaleta, N., Kannass, K. N., Lazarte, F., Albornoz, C., Kapa, L. L., & Caulfield, L. E. 7- Bhatnagar S, Taneja S. Zinc and cognitive development. Br J Nutr. 2001 May; 85 Suppl 2:S139-45. Review. 8- Vural H. et al. Alterations of plasma magnesium, copper, zinc, iron and selenium concentrations and some related erythrocyte antioxidant enzyme activities in patients with Alzheimer’s disease. J of Trace Elemen in Med and Bio 2010; 24:169-173. 9- Vural H. et al. Alterations of plasma magnesium, copper, zinc, iron and selenium concentrations and some related erythrocyte antioxidant enzyme activities in patients with Alzheimer’s disease. J of Trace Elemen in Med and Bio 2010; 24:169-173. 10- Meplan C. Trace elements and ageing, a genomic perspective using selenium as an example. J of Trace Elem in Med and Biol 2011; 25: 11-16. 11- Berr, C., Balansard, B., Arnaud, J., Roussel, A. M., & Alpérovitch, A. (2000). Cognitive decline is associated with systemic oxidative stress: the EVA study. Etude du Vieillissement Artériel. Disponível em: https://agsjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1532-5415.2000.tb02603.x?sid=nlm%3Apubmed 12- Swaminathan S, Thomas T, Kurpad AV. B-vitamin interventions for women and children in low-income populations. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. Disponível em: https://journals.lww.com/co-clinicalnutrition/abstract/2015/05000/b_vitamin_interventions_for_women_and_children_in.15.aspx 13- Nurk E, Refsum H, Bjelland I, et al. Plasma free choline, betaine and cognitive performance: the Hordaland Health Study. Br J Nutr. 2013 Feb 14;109(3):511-9.